Eu não sei precisar se o que eu vou falar nesse post é uma característica mineira e nordestina, ou se vale para todo tipo de interiorano brasileiro. Da minha parte, tenho a impressão que essa
coisa existe por todo o país, mas é mais forte aqui no Nordeste e nas Gerais.
O que tento explicar não é algo concreto. É a capacidade de transformar um fato comum numa saga fantástica, de proporções, às vezes, mitológicas. No Sertão, Agreste e Recôncavo, parece que as pessoas nascem com o dom de conhecer a maneira mais interessante de se contar uma história. Não é fácil. Primeiro, deve-se ter um bom vocabulário. Em seguida, é preciso tecer o enredo com bastante técnica e aprumo. No arremate, muita mágica e generosas doses de sinceridade no falar.
Talvez vocês não estejam entendendo a que eu refiro. Vou tentar esclarecer falando do meu avô Pedro.
Ainda tenho muito fresca na memória a imagem do pai do meu pai: um senhor esbelto, perfumado, bem vestido, e incrivelmente elegante, mesmo no alto dos seus 90 anos. Para mim, um vovô charmoso e simples, que sentia muita saudade da esposa morta e cuidava carinhosamente de seus passarinhos. O Pedro que conheci pela convivência era amável e melancólico; o Pedro que conheço pelas histórias é um herói galante e cheio de nobreza.
Conta-se que, em sua juventude, meu avô tinha uma tropa de burros para aluguel e viajava com ela por toda a Bahia. Quando ele chegava numa cidade, a tropa se perfilava, para que o "comandante" passasse em revista. Segundo a história, à medida que o elegante cavalheiro passava por eles, os burros abaixavam a cabeça, num sinal de reverência e vassalagem, causando furor e admiração entre os habitantes do lugar. Também se diz que, no dia do casamento de Pedro Serra, uma procissão de mulheres ciumentas marchou diante da casa da noiva cantando "
quero ver quem pode mais...".
Não são velhos malucos que me contam isso em tom de brincadeira. São os parentes diretos de Seu Pedro, cheios de emoção ao lembrar dele. E de todos os meus familiares por parte de pai, eu só tenho esse tipo de notícia. Não são relatos precisos e corretos. São histórias inverossímeis e cheias de encanto, contadas por quem tem maestria em fazê-lo. Gente dessa arte é muito mais criativa e deliciosa que cem livros de Tolkien e mil filmes de Spielberg.
E todo esse post foi consequência de uma só obra: "O Coronel e o Lobisomem" de José Cândido de Carvalho. Um livro que foi presente do meu namorado e que me fez sentir em casa.
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Não tem jeito! Eu vou ter que dedicar esses escritos a um blogueiro que certamente compartilha do meu orgulho de ser Nordestina, Seu
Manoel Carlos, popularmente conhecido como
Agrestino.