sexta-feira, março 23, 2007

Meus olhos castanhos

Não sei nos outros lugares do Brasil, mas aqui em Salvador, como a população "afro-aparente" é grande e o movimento negro, forte, discriminação racial é um assunto recorrente, em especial no contexto acadêmico (que me desculpem os adeptos, mas falar em afro-descendentes na Bahia é falta de noção). Com a implantação do sistema de cotas, então, discussões sobre etnia e status viraram uma praga - é um debate necessário, obviamente, mas que deu no saco, deu. -_-

Eu na condição de borboleta multiétnica descendente de índios, judeus, italianos e, é claro, negros, sinceramente acho que boa parte do que se diz nesses contextos é besteira. Li outro dia, por exemplo, que a tendência dos "miscigenados" de não se reconhecerem como negros é uma forma de discriminação. Mas, porra, numa boa, qual o sentido de uma criatura da minha cor sair na rua dizendo que é preta? Geneticamente sou negra, sim, mas não só isso (geneticamente sou coisa pra cacete, aliás)! E dizer que sou negra simplesmente é uma falta de respeito não só com meus antepassados coloridos, mas com todas as pessoas "explicitamente" negras (coisa que eu quase não sou) e que são discriminadas por isso.

Eu sou da turma que acha que a segreção social no Brasil é muito pior do que a racial. Não que o preconceito racial não exista - longe disso - mas ainda acho que, por aqui, ser pobre é muito "pior" do que ser preto. Acredito que todas essas medidas reparativas, ou sei lá como se chamam as cotas, deviam ser direcionadas aos alunos de baixa renda provenientes da rede pública de ensino. Racismo tem que ser combatido sim, mas através da educação, da formação de cidadãos conscientes. Responder na mesma moeda, além de estar fora de moda, é historicamente ineficaz. Ou assim eu penso.