sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Um chuchu e suas conseqüências nefastas

Todo mundo sabe que filmes cabeça são para pessoas cabeça. Só elas tem q.i., bagagem cultural, paciência e imaginação para não dormir durante os 240 minutos de arte e, ainda por cima, captar todos os vieses interpretativos que o diretor-gênio oferece. Eu não sou uma pessoa cabeça. Ao contrário, sou burrinha, superficial e bocó. Por que então ainda me arrisco a assistir filmes de ordem superior?

Lá estou eu, numa tarde ensolarada, sentada na poltrona assistindo (ao mesmo tempo) Gilmore Girls e Project Runway quando, de repente, aparece em minha tela mais uma opção de entretenimento. Um filme com George O'Clooney, gatããão da meia idade, vestidinho de astronauta. Arrisco.

Na primeira cena, ele está na cama e conversa com uma mulher que parece a Meryl Streep. Ela está confusa, pois apesar de ter lembranças, não as sente. São superficiais. Ela duvida da própria existência. Crise. Volto pra Gilmore antes que minha cabeça exploda.

E mais O'Clooney. Na cena seguinte, George está numa sala com duas outras pessoas discutindo acerca dos "visitantes". Parece que eles estão numa estação espacial perto do planeta Solaris e que o diabo do planeta é inteligente e materializa a consciência de quem está por perto. A tripulação quer que o Clooney se livre da Meryl Streep. Ele se nega porque ela é sua esposa. Alguém diz a ele "sua esposa está morta" e ele responde "não fale sobre um conceito que você não conhece". Crise. Project Runway. Urgente!

De volta a Solaris. George O'Clooney está deitado no chão agonizando. Um menininho está de pé olhando pra ele. Ele dá a mão ao meninho. Essa cena dura uns 5 minutos. Crise. Volto pro Gilmore.

Acabam minhas outras opções de canal e eu, relutante, volto a Solaris. Mas não é mais Solaris. É o George O'Clooney vestido de gente (sem roupas de astronautas, digo), subindo escadas, chegando em casa, lavando vegetais, cortando um chuchu, cortando o dedo, lavando o dedo ensanguentado e, tchaaaaaaaaans! A esposa morta aparece! Ele olha pra ela com cara de peixe "Eu estou morto?". Ela responde "Não precisamos mais nos preocupar com isso". Crise. Crise. Criiiiiiiiiiiiiiiise. CRIIIIIIIIIIIIIISE!

Resolvi pegar o filme inteiro pra assistir. Mas, como desgraça pouca é bobagem, peguei o original, do Tarkovsky. Assisti ontem à noite. Continuo em crise.

Procura-se desesperadamente alguém que tenha assistido Solaris para diálogos esclarecedores. Quem estiver apto e disposto, favor escrever para toctoctoc@terra.com.br.

Grata.